Com você ao meu lado o peito já doeu, a mão já se fechou preparada a
ceder aos impulsos violentos, os olhos já se encheram de lágrimas. Mas você
continua com a mesma expressão. Olho pra sua mão. O anel é diferente do meu,
nem lembro mais da época em que eram semelhantes. Só lembro da dor da sua
ausência. Da sua ausência nos jantares, do seu ronco pesado no meu ouvido, do
seu abraço quente, das brigas que sempre terminavam em cócegas. E dos sonhos.
Sonhos simples. Mas não sei se a dor do não estar dói mais do que a sua
presença. Tem dias que só sonho em uma vida sem você. Sem ter que esperar por
falhas de terceiros pra te fazer sorrir, ou por horários na sua agenda pra me
ver. Sem ter que suportar seus abraços escondidos e suas declarações ineficientes.
Como acreditar num eu te amo que falha? Um eu te amo que fica vago. Que brilha
nos seus olhos, mas que pesa em tudo o que faz. Sentimento não dá só pra ficar
no peito. E é onde você o mantém. Mantém nos dias em que só eu sei te amar, em
que só te dou as palavras de carinho e as broncas. Em que só eu sei te mostrar
o caminho. Nos dias em que seu peito sente falta de tudo o que eu sinto falta
todos os dias da minha vida. A verdade tão clara, mas os olhos permanecem
cegos. Escolhi não enxergar os fatos, ignorando o seu silêncio e suas palavras
curtas e carregadas da verdade. Acreditei nesse monte de entrelinhas e em
palavras escassas que me causavam torpor. Acreditei num circo, fui desses
palhaços que nunca sabe sair da transfiguração, do picadeiro. Desses que fazem
tudo pros outros rirem e que se depreciam ao dar as costas. Acreditei que o
picadeiro era a minha realidade, e o mundo riu de mim. E vi você na primeira fila.
Puxa, li outro dia este post, mas como estava num clima melhor não havia entendido e não soube o que comentar. Vim visitar o blog para ver se tinha algo novo e deparei-me com este texto e resolvi lê-lo novamente e consegui entender. Talvez seja porque hoje eu devo estar mais no clima do texto. Descobri que o problema são as entrelinhas que não damos (pelo menos eu) tanta importância. Ou dei demais; e tudo o que é demais, estraga.
ResponderExcluirsenti que meu texto é só pra clima ruim haha (se bem que é mesmo). o problema também é quais entrelinhas vemos e damos importância. cada um enxerga o que quer.
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