Ando a passos lentos, enquanto os que me cercam andam apressados, como
se, a cada passo, um segundo estivesse sendo desperdiçado. Eles não viram o saxofonista, perderam o jazz que ele tocou. Aquela
sinfonia foi uma breve trilha sonora dessas vidas ligeiras.
Ninguém
sequer olha pros lados. Enquanto escuto o saxofone, alguém esbarra em
mim, se desequilibra, desacelera os passos, olhas nos meus olhos e vejo
o que poderia ser um vislumbre de felicidade, mas dura só um segundo. A vida o fez lembrar de apertar o passo.
Alguém
joga uma moeda no chapéu do artista, alguém que não esteve ouvindo a
música ao meu lado. Sabia que era a única a ouvir aquele senhor e seu sax
antigo. Deve ter feito por reflexo ou por saber da beleza da música,
mas não poder parar ao meu lado e se deixar levar pelo momento. Tinha
mais algum relatório para entregar.
A música então termina. Não percebi o quanto fiquei aqui parada, quantas vidas passaram por mim. Só sei que agora preciso ir, também tenho que dar meus passos rápidos. Tenho que deixar o sax pra trás. Foi
uma boa pausa. Tenho meu relatório para entregar. Tenho mais algumas
horas para reencontrar o saxofonista. Mais algumas horas para encontrar a dona dos olhos castanhos, que estará ao meu lado para ouvir o som do sax e apertar a minha mão quando a música acabar.
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