quarta-feira, 12 de novembro de 2014

sobre uma página do uma página.

hoje eu decidi enfrentar uma página bem específica: "qual foi o primeiro funeral a que você foi? você acha que vai ficando mais fácil?"

bom, não gosto de pensar nas pessoas que perdi. dói. pensar que nunca vou saber como a vida poderia ter sido com os dois homens que mais amei ao meu lado.

confesso que sei pouco do meu avô além do que me contam. sei que a ausência dele abalou a minha família por completo. o grande homem da casa. o que sei é na verdade o que sinto, pois sempre que penso nele lembro do sol. no brilho cegando meus olhos. uma luz. uma luz que fui privada tão cedo. eu tinha um ano e oito meses, nunca soube da existência dele além dos meus pensamentos.

mas meu tio, desse eu lembro de tudo. de como ele era bom, sem forçar isso. ele era daquele tipo presente que sempre me fazia sorrir. lembro dele enfermo, mas sem nunca deixar de me fazer sorrir, nem quando a vida dele estava chegando ao fim. o melhor homem que conheci se foi assim, do nada. um dia ele estava me carregando no colo e no outro eu via seu rosto inexpressivo num caixão indo embora pra sempre num dia de chuva. eu tinha oito anos. a chuva nunca mais foi a mesma. os dias nublados nunca mais foram iguais. nem meu coração. 

eu nunca souber perder as pessoas. apenas aceitei a dor. acreditei que era o melhor. e era. sei que eu escolheria o fim do sofrimento dos dois. ambos com câncer, já em seu estágio final. a gente nunca pode ser egoísta a ponto de escolher a nossa felicidade. seria a pior prova de amor escolher que eles fossem meus vivos e em uma maca. eles são meus em meu coração e em todos os sentimentos que tenho. eles são meus em todas as fotos e lembranças que eu nem mesma tenho acesso. eles são meus. meu tio e meu avô. meu Luís Antônio e meu Tertulino. os melhores homens da minha vida. 

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